Filme geográfico: Terra de Ninguém

Mais do que a Guerra da Bósnia, Terra de Ninguém é um filme sobre como se organizam as forças políticas e econômicas do mundo contemporâneo

Começo hoje uma série de posts sobre filmes que podem ser úteis ao trabalho do professor de Geografia em sala de aula. Esta série tem por objetivo apresentar materiais cinematográficos que podem contribuir com as aulas de Geografia. Entretanto, pretendo abordar filmes e documentários pouco conhecidos do grande público, já que produções como Central do Brasil, Ilha das Flores, Hotel Ruanda e Uma Verdade Inconveniente já foram exaustivamente abordados na internet, de forma que falar aqui sobre eles não traria nenhuma grande contribuição aos leitores.

Terra de Ninguém

Começarei pelo filme Terra de Ninguém (Ničija Zemlja, 2002) . Este é sem dúvida um dos melhores filmes para se trabalhar em Geografia Escolar. Sua narrativa é um drama recheado de suspense, com pitadas de um humor sarcástico e melancólico, as personagens são bem construídas e cada uma representa um aspecto do tema explorado no filme. Essas condições fazem como que o filme prenda a atenção do espectador a cada detalhe, e pouca coisa passa despercebida por quem assiste à película pela primeira vez.

Breve sinopse (contém spoilers): O filme é bósnio, com uma produção que envolve diversos países europeus. Trata da Guerra da Bósnia, por uma ótica muito peculiar. No enredo, dois soldados, um bósnio (Ciki – lê-se Txiki) e um sérvio (Nino), ficam presos em uma trincheira entre os dois exércitos. Ao longo da trama, o filme exibe o ódio étnico representado pela relação entre os dois soldados, mas envereda por temas mais profundos da geopolítica pós-Guerra Fria. Surgem a imprensa, representada por uma jornalista estrangeira, e as forças de paz da ONU, representadas por um capitão da UNPROFOR, a força da ONU designada para a missão de paz naquela região.

Nas aulas de Geografia

A narrativa permite ao professor de Geografia abordar em sala temas diversos: as consequências do fim da Guerra Fria para o Leste Europeu, a fragmentação da Iugoslávia, os conflitos separatistas, étnicos e a xenofobia, o papel da ONU e de suas missões de paz, o papel e os interesses da mídia acerca de situações críticas, e a desigualdade de tratamento e atenção, por parte dos organismos internacionais, para com países mais e menos importantes do ponto de vista econômico. Paralelamente, abordado juntamente com uma análise profunda da fragmentação da Iugoslávia e a história da Bósnia, o filme também é um excelente instrumento para abordar a diversidade religiosa e desmistificar o preconceito ocidental e o discurso dominante que determinam o Islamismo como uma religião atrasada e que representa ameaça às sociedades de maioria cristã.

O filme está disponível no blog Download Cult.